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QUINZE PRIMAVERAS

Virava, uma, duas, três vezes. Admirava meu corpo esguio e belo naquele vestido de gala. Me sentia uma verdadeira princesa, naquele momento...

domingo, 31 de maio de 2015

EU TENHO FÉ

Eu tenho fé no futuro
Eu tenho fé na vida
Nem tudo está no escuro
Nem toda esperança perdida.

Eu tenho fé no mundo
Em seu eterno esplendor
Em seu ser fecundo
Em seu pleno vigor.

Eu tenho fé nas pessoas
Acredito que façam a diferença
Que a maioria delas são boas
Que fazem jus à sua crença.

Eu tenho fé na amizade
Unindo corações para a eternidade
Por um sentimento, uma verdade
Que torna a vida uma realidade.

Eu tenho fé na dor
Mostra como tu é capaz de sentir
De curar com o poder do amor
O sabor de voltar a sorrir.

Eu tenho fé na solidariedade
Na alma que outra ajuda
Eu tenho fé na verdade
Mesmo que esta seja muda.

Eu tenho fé no amor
Que é capaz de curar
De fazer felicidade, e causar dor
Dar vida a quem é capaz de amar.

Eu tenho fé em Deus
Sei que está comigo até o fim
E que cuidará dos bisnetos meus
Do mesmo modo que cuida de mim.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

OLHAR INPENETRÁVEL

   Naquele dia eu precisava acordar cedo. Disso lembro-me como se fosse ontem, porque acordo cedo todos os dias desde aquele em que minha vida mudou por completo.
   Lembro-me, e com certa vergonha, que eu era um ser humano daqueles que se podem considerar, e com razão, arrogantes. Eu não tinha tempo pra nada e pra ninguém, tudo o que eu fazia girava em função de um único motivo: minha própria existência e felicidade. Mas acontece que eu não era feliz, parecia que sempre faltava alguma coisa em minha vida. Eu não sabia o que era, mas na época parecia ser a ascensão tão desejada na carreira de advocacia. Era meu maior e único sonho. O resto, nada importava. Eu não queria, me recusava determinantemente, a sair de casa nas noites de sábado, para ir a algumas baladinhas, como era costume de alguns amigos meus. “Você precisa se divertir”, diziam-me eles. Mas eu confesso, na época eu não gostava de ir aquelas festas consideradas por meu subconsciente como sendo hipócritas. Nos fins de semana, preocupava-me em adiantar alguns papéis e documentos da empresa, para que, quem sabe, eu pudesse conseguir uma promoção, coisa que era possível acontecer em breve, em razão, do que dissera meu chefe, “de uma dedicação de corpo e alma à nossa empresa”. Me orgulhava disso, considerava-me importante, um dos funcionários de maior destaque da “Advocacia e Cia”.
   Naquela segunda-feira pela manhã, eu começaria um novo horário na empresa. Trabalhava com um meio turno há seis anos lá, e agora, por conta de minha total dedicação e ajuda para com meus chefes e clientes, eu começaria o trabalho em tempo integral. Por isso, eu precisava levantar cedo. Não podia atrasar-me de jeito algum, ou seria o fim do avanço em minha carreira que sequer começara.
    O despertador tocou às seis horas da manhã, soando como algo que irritava facilmente meus ouvidos aguçados. Eu começaria meu turno às oito horas, mas, como poderia haver congestionamento nas ruas movimentadas daquela cidade, preferia chegar antes. Por isso, o despertador me acordou tão cedo. Levantei de um salto da cama que eu começara a pagar em dezembro do ano anterior, parcelada em doze suaves prestações, e que eu  terminaria, (felizmente!), daqui a um mês.
   Peguei apressadamente a roupa que tinha jogado, na noite anterior, em cima da poltrona feita de algum material parecido com o couro. As roupas estavam do avesso, e ainda por cima, a camisa social branca que eu reservara estava, na ponta, perto do último botão de baixo, manchada com algum tipo de molho, certamente do molho de cachorro-quente que eu jantara na noite anterior. Decidi pôr aquela camisa mesmo, enfiando-a por dentro da calça preta e lisa.
   Desci as escadas que rangiam sob meus pés correndo. Cheguei na cozinha velha e gasta, a procura de algo que pudesse se tornar meu café da manhã. Qualquer pão velho e seco serviria, mas por sorte, encontrei em um pote um restinho de café e um pão que ainda não havia estourado o prazo de validade na geladeira. Seria isso mesmo: café com um pouco de açúcar e um pedaço de pão.
   Resolvi dar uma arejada na casa enquanto esperava a água da chaleira ferver no fogão a gás que ganhei de minha mãe. Abri a janela da frente a fim de contemplar o sol nascendo, coisa que nunca tinha visto antes. Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas voltei correndo pra cozinha ao ouvir a água chiando, avisando que fervera. Fiz rapidamente meu café e peguei o pedaço de pão e voltei pra janela: ainda tinha algum tempo. Quando olho novamente para fora, vejo uma janela se abrindo na casa em frente a minha. Dela, surge um pano sendo sacudido, provavelmente alguma toalha de mesa. A toalha é recolhida e com isso posso ver a dona das mãos que a seguram: uma mulher com um tom de pele acobreado, cabelos castanhos formando ondas, e olhos verdes que parecem abrigar uma floresta inteira. A mulher ainda não havia me visto. Não até terminar de dobrar a toalha e dar uma espiada na rua. Foi quando os olhos dela se cruzam com os meus e ela me olha tão profundamente que eu chego a ficar com uma sensação de desconforto. E então ela sorri. Fico perplexo, quem é ela, totalmente estranha para mim, para sorrir para um estranho como eu? Realmente existem pessoas sem bom senso neste mundo.
   O relógio da sala, daqueles bem antigos, soa indicando que são seis horas e trinta minutos. Droga! Precisava correr agora, para não se atrasar. Vai correndo até a cozinha, e deixa desajeitadamente a xícara dentro da pia. De noite iria se virar. Mas agora precisava ir pro trabalho, e rapidamente.
   Põe a chave na ignição e a gira. Felizmente o velho carro pegou na primeira tentativa. Apesar de ele ser um frequente visitador da oficina, ainda amava aquele carro. Era um carinho paternal, que eu não queria estragar substituindo o pobre automóvel.
   Felizmente o trânsito estava leve naquele dia. Sem congestionamentos, sem maiores problemas para chegar adiantado no trabalho.  Meia hora de percurso, meia hora antecipado.
   Aquele dia fora extenuante e extremamente cansativo. Nos últimos quinze minutos de trabalho naquela tarde, tudo o que eu queria era voltar pra casa, tomar um banho quente e dormir agarrado em minhas cobertas.
   E foi o que eu fiz. Não jantei, não analisei nenhum caso novamente, não estudei nenhuma possibilidade de enfrentar o julgamento de um caso na semana que viria.
   Meu ritual foi o mesmo nas semanas subsequentes. Acordar as quinze pras seis, tomar uma xícara de café e comer uma fatia de pão quando ele não faltava, e abrir a janela para arejar a casa, aproveitando para tomar seu café ao mesmo tempo em que observava o sol nascer.
   E sempre que fazia isso, esse que se tornara uma espécie de momento sagrado de cada manhã, ao olhar para a casa vizinha do outro lado da rua, lá estava ela: a mulher de cabelos no formato das ondas e olhos que abrigavam uma floresta inteira. E ela sempre estava com um sorriso nos lábios, encarando-o. Nunca falou palavra alguma, o que o incomodava mais. Às vezes, durante o trabalho, se pegava a observar a rua pela janela do escritório, pensando na moça e em seu sorriso. Isso lhe provocava um certo desconforto, mas passava. Logo se envolvia no trabalho e esquecia a vizinha da frente.
***
   Estava no meio da selva. Da selva de concreto, e sorria como um tonto para uma flor que encontrara subitamente no meio da rua, onde os carros passavam. No meio de toda aquela selva, aquela flor conseguira vencer e nascer. E isso me provocava uma sensação de orgulho. Orgulho da pobre flor e da garra e coragem que ela possuía, assim como eu precisava ter nos tribunais.
   Senti meu peito arder. Será que estava tendo um infarto? Será que nos meus trinta e poucos anos eu morreria, jovem e com um futuro brilhante pela frente? Não, não podia, mas era isso que eu tive certeza quando um homem encapuzado colocou um revólver em minha cabeça e me mandou entregar meus bens, todos que eu possuía. Disse que só tinha minha carteira e o relógio que era herança de minha avó. Ele disse que não importava, ele queria o que eu tinha. Entreguei a carteira e o relógio, e ele as entregou para um comparsa conferir enquanto me mantia sob vigilância. O segundo abriu a carteira, e, milagrosamente, lá haviam surgido um punhado de notas de cem reais. “Obrigado, meu Deus”, pensei, porque aquilo significava a continuação de minha vida. Ele sorriu para mim e disse que já, já, eu poderia me mandar. Agradeci. O segundo encapuzado se aproximou de mim, enquanto o outro ainda me segurava. “Posso ir?”, pedi. “Sim, pode.”, disse um dos dois, não me recordo qual. E atirou.
   Acordei suando frio, e gritando, e chamando por socorro. Aos poucos, fui percebendo que estava em meu quarto, olhando para meu roupeiro, e que aquilo, na verdade, fora um pesadelo. Apalpei meu corpo inteiro e constatei que não, eu não estava morto. Fora apenas um susto.
   Olhei para o rádio relógio. Seis horas e meia. Essa não, a bateria do celular deveria ter descarregado enquanto eu dormia. Precisava lembrar desses detalhes de vez em quando. Precisava me vestir e comer rapidamente, para que não me atrasasse. Desci correndo as escadas, indo escovar os dentes enquanto vestia e abotoava a camisa.
   Não teria tempo pra tomar café, muito menos pra comer alguma coisa. Enquanto escovava os dentes abri um pouco a janela. O sol já havia nascido, mas meu ritual não estava estragado por causa disso. Além do mais, a visão do sol já nascido era espetacular. Olhei para o outo lado da rua, e vi aquela moça, sorrindo, encantadoramente, para mim, e novamente me encarando. Nossos olhares, naquele momento, se cruzaram, e consegui sorrir também. Nunca havia percebido antes, mas os homens que passavam pela rua naquela hora da manhã, olhavam para ela, perdidamente apaixonados. E ela ali, olhando para mim, me encarando, sorrindo, tentando fazer com que eu a notasse. Meu relógio na sala de estar quebrou aquele encanto repentinamente e fez com que eu lembrasse que estava atrasado. Quinze para as sete. Precisava ir. Não podia mais olhar para a moça do outro lado da rua. Peguei meu casaco e corri para o carro.
   Cheguei cinco minutos atrasado, mas ainda tive sorte por meu chefe ainda não ter se feito presente. Comecei imediatamente a trabalhar, mas havia algo que não me deixava concentrar-me totalmente nos casos que eu analisava. Tinha uma sensação de que havia algo errado. Uma espécie de premonição. Credo! Eu devia estar ficando louco. Voltei a me concentrar no trabalho. Passaram-se uma, duas, três horas, e nada daquela sensação desaparecer. Onze horas da manhã, quase hora de meu almoço. Precisava ir imediatamente lavar a cara, essa sensação de mal-estar deveria passar com uma água fria na cara.
   Bati na sala de meu chefe e pedi se podia ir almoçar meia hora antes. Disse que não estava me sentindo bem, e que o almoço poderia me ajudar com isso, pelo fato de eu não ter comido nada pela manhã. Ele me permitiu a saída antes do horário.
   Desci com o elevador e saí do prédio em direção ao restaurante de comida por quilo onde eu sempre ia. Lá eu comia mais decentemente do que em casa. Servi-me com uma porção de tipos de carne e nada de saladas.
   Ao sentar-me na mesa de quatro lugares para comer, meu celular vibra no bolso da calça. Tiro ele e atendo com um alô visivelmente irritado. É um número desconhecido, e então pergunto pelo nome da pessoa que está falando. O homem se identifica como sendo da polícia, e diz que está em minha casa, onde houve uma morte e uma tentativa de assalto. Pede-me que eu vá até lá imediatamente. Concordei e ele desligou. Agora não conseguia mais comer de jeito nenhum. Era isso que me incomodava pela manhã.
   Paguei a conta e saí apressadamente pela porta simples do restaurante. Atravessei a rua para subir e falar com meu chefe. Expliquei a situação para ele e ele me disse que ocupasse o tempo que precisasse para resolver o problema.
   Fui para casa em uma corrida desabalada, me advertindo a cada instante por não respeitar as leis que estavam indicadas nas placas. Mas eu ansiava chegar logo no local.
   Virei a esquina da rua que eu  nem conhecia direito, apesar de morar há quase um ano ali. Já havia um pequeno aglomerado de pessoas se avolumando cada vez mais na frente da casa que era minha. Desci do carro batendo a porta, forçando minhas vistas a procurar um policial qualquer que pudesse me explicar o que acontecera.
   Um policial baixinho e atarracado com poucos cabelos grisalhos na cabeça que ameaçava ficar careca, me explicou que, pelas nove e meia, três homens encapuzados e armados tentaram roubar minha casa. ( Nessa hora lembrei que, por conta do atraso daquela manhã, esqueci de trancar a porta. Maldito despertador!) O homem continuava falando enquanto eu lembrava da porta esquecida. Pedi-lhe se era verdade que alguém havia morrido, e ele confirmou com um aceno de cabeça, parecendo comovido. Então disse-me que, na hora em que os ladrões tentavam entrar na casa pela janela, uma mulher percebeu o movimento dos bandidos e atravessou a rua correndo para tentar impedi-los. Ela morreu com uma bala cravada no coração. Os ladrões haviam fugido sem deixar rastros.
   Meu coração estava apertado, e, com uma sensação ruim na alma, perguntei a ele quem era a mulher que tentara proteger minha casa. Ele somente apontou para um canto, onde funcionários da ambulância a ajeitavam para levá-la ao necrotério. Fui até a mulher. Fosse quem fosse, eu queria agradecer a alguém, mas, infelizmente, aquela que tentara salvar minha casa havia morrido. Não havia nada que eu pudesse fazer.
   E então eu a vi e meu coração quase parou, e hoje, eu desejo que ele tivesse parado, pois na minha frente, deitada em uma maca rumo ao necrotério, estava aquela mulher que sempre me encarava do outro lado da rua, todas as manhãs. E o mais intrigante era que ela sorria. Mesmo morta, e com sangue manchando sua blusa apertada, ela sorria. Os olhos já haviam sido fechados, e eu nunca mais os veria.
   Abaixei-me. Lágrimas escorriam por meus olhos. Milhares delas. Meu coração doía como nunca antes havia doído. Se antes eu não entendia o que era o amor, agora eu tinha certeza de que ele existia. Naquele momento eu descobri que estava, há muito tempo, desde que tinha começado o ritual de abrir a janela todas as manhãs, apaixonado por aquela moça que tinha um olhar impenetrável.  Aquele olhar em que cabia uma floresta inteira. Aquele olhar que ficaria para sempre marcado em minha memória. Aquele olhar que somente tarde demais eu percebera amar. Aquela moça, que eu nem sabia o nome, dera a vida por mim. Me amara em silêncio, me encarando e sorrindo todos os dias do outro lado da rua. Ah, como o coração doía, parecia que um pedaço de mim havia sido arrancado, para sempre. Lágrimas de dor, que queimavam e ardiam, moldavam minhas faces, deixando marcado o caminho de minha dor.
   Como se me despedisse, fechei os olhos e beijei-a. Foi um beijo leve, delicado, suave, que marcava minha despedida com minha amada.
***
   Isso acontecera há 51 anos. Hoje, sou um velho que poderia ter uma meia dúzia de netos. Mas depois daquele dia, depois de perder a pessoa que eu descobri amar depois de sua partida, e que eu amava até hoje, eu nunca havia olhado para outra mulher.
   Sentado na varanda de minha casa, relembro daquela história. Relembrar se tornou meu segundo ritual de todos os dias. Ainda abria a janela todas as manhãs, onde esperava vê-la, a sorrir pra mim, a me encarar, mas é claro que isso nunca mais seria possível.
   Hoje sou aposentado, e minha carreira de advocacia nunca mais importou depois daquele dia. Relembrar a história da morte de minha amada me faz doer o coração. Mas faço isso na esperança de que eu sofra alguma espécie de infarto e eu possa, finalmente, me juntar a ela.
   Sorrio, lembrando do sorriso lindo que ela tinha, e dos olhos verdes que marcaram todos os meus melhores sonhos e meus piores pesadelos. Meus sonhos mostravam como teria sido nossa vida se eu não tivesse sido tão tolo e ignorado ela quando ela me sorria pela manhã. Mas, mostrava também uma cena que me fazia gritar e espernear enquanto dormia.  Eu sonhava ver os ladrões tentando invadir minha casa. Então ela entrava em cena e os ladrões a matavam. E eu, no sonho, ficava imóvel, não conseguindo fazer nada. Isso me angustiava e por isso eu acordava ao som de meus próprios berros.
   Amarga a minha dor. Mas, fazer o que, foi minha lição, não escolhi minha vida detalhe por detalhe.
   Olho para o outro lado da rua e vejo aquela casa que esconde os mistérios e segredos de minha amada, intacta desde o dia de sua morte. Quando ela faleceu, a família quis vender a casa, não precisava mais dela. Ele a comprou, pois não queria acordar pela manhã e deparar com um estranho na janela de sua amada.
   Mas nunca entrou na casa. Tinha a chave, mas nunca tivera coragem de entrar no lugar que era da moça que ele nunca deixara de amar. Nos seus oitenta e seis, agora, sentia uma imensa vontade de desvendar os mistérios que ela guardava para si.
   Sorriu, e decidiu-se: iria conhecer as profundezas do santuário da moça que morrera por ele.
   Abandonou a velha cadeira de balanço. Colheu, no seu jardim, uma margarida branca, simplesmente por impulso. Abriu o portão enferrujado que rangia. Estava precisando de um óleo.
***
   Atravessando lentamente a rua, ele nem percebeu o carro que vinha desordenadamente em sua direção. A dois passos da calçada, ele o acertou. O senhor idoso que aparentava estar perto dos cem anos e que segurava uma margarida na mão, morreu na hora.

   A dois metros do corpo inerte e já sem vida, atrás daquela porta detalhada em mogno, na casa que tinha uma janela grande que guardava uma floreira onde tinham margaridas brancas plantadas, estava uma carta, de sete páginas, declarando um amor ardente e sem solução, esperando o recém falecido há longos cinquenta e um anos.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O AMOR

(POR TÂNIA THAIS NEUNFELD)
   Parecemos tão forte, mas somos tão humanos.  Preferimos chorar de saudade em vez de dobrar uma esquina, pedir desculpa e abraçar quem magoamos. Somos tão imaturos quando se trata de amor, ficamos bobos, e algo que antes era apenas mais uma palavra em nossa vida se torna tudo.  Algo muito maior que a imensidão dos problemas, das decepções. E acima de tudo, a solução. A solução para  a mágoa, o ódio, e infinidade de  tropeços que o mundo insiste em nos propor. É preciso encontrar o amor, e ele está nas coisas mais simples:  Naquele sorriso que não abandona seus pensamentos, quando o sol ainda não apareceu, naquele frio na barriga quando você abraça alguém, na insegurança dos passos quando alguém vem ao seu encontro. Está na saudade, no abraço, no carinho, no perdão, e em todas as sensações que fazem pulsar o coração. 

domingo, 24 de maio de 2015

ALMA DE POBRE

Tem quase tudo o que existe
Está no meio de luxo e grana
Mas no fundo é homem triste
Quem será que ele pensa que engana?

Dizem que quem é rico tem
A chave pra liberdade
Mas com guarda-costas ele sempre vem
Cadê o homem que é livre de verdade?

Te concentra em viver
Lute por tua virtude
Teu status não vai te fazer
Ser alguém com mais saúde.

Teu dinheiro só te ocupa
Na realidade, ele não te faz feliz
Ele somente te preocupa
E isto é porque tu quis.

Cadê a liberdade?
Cadê a felicidade?
Cadê a serenidade?
A paz e a tranquilidade?

Te direi algo verdadeiro:
Vai sonhando, ser fecundo
Tu pode até ter dinheiro
Mas teu dinheiro não salvará o mundo.

Aproveite teus sacrilégios
Antes que a vida te cobre
Tu pode até ser rico e viver de privilégios
Mas no fundo, tua alma é de pobre.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

POR DIANA TONDOLO ( Uma mensagem que recebi dela, amiga feita no mundo das letras)

Dizer que admiro e gosto de você é muito pouco, porque uma amizade como a nossa merece mais, merecia ser descrita no infinito para que todos pudessem entender o que realmente ela representa na vida de cada um de nós, não sei se declaro, homenageio ou agradeço. Se eu fosse declarar, diria que sem você em meu caminho não haveria tantas coisas a contar, se fosse homenagear você, gostaria de lhe oferecer o brilho das estrelas e o caminho do calor do sol e você ficaria muito mais consciente desse meu gesto, mas prefiro agradecer, agradecer a Deus por sua amizade, dizer a Ele que foi o melhor presente que recebi em minha vida, que você é realmente um ser iluminado que consegue trazer ao mundo um grande carisma e um grande companheirismo, você representa com nobreza a palavra amizade. Obrigada por fazer parte de minha vida!!!
Eu queria te dar todas as coisas boas do mundo! Eu queria te dar a lua, o sol, as estrelas, o mar! Mas como não posso, te entrego então, apenas a minha amizade, que da minha parte e sei que também da sua, pode ser infinita, eterna como todas essas coisas. Você vai brilhar muito nessa vida, eu sei disso, e eu vou está assistindo de camarote. TE ADORO.

A TEMPESTADE

O céu estava claro, límpido. Havia umas poucas nuvens, mas estas iam embora com o vento calmo que soprava as últimas folhas secas do outono. O sol, que antes brilhava forte, impondo respeito, agora parecia tímido, como criança assustada por causa de filme de terror. O parquinho era ocupado por crianças barulhentas, que sustentavam sua felicidade por meio dos brinquedos velhos e já gastos, dispostos aleatoriamente pela dimensão do parque. Algumas delas, já suadas, corriam umas atrás das outras, não se preocupando com o calor que isso provocava. Outras, mais calmas, brincavam na areia, ocupando pás e baldes de plástico para construir castelos, que depois eram pisados por pés pequenos, sendo reduzidos a montes de areia que provocavam risadas gostosas naquelas bocas pequenas. Viam-se pássaros nas árvores, preocupados em cuidar de seus filhotes recém-nascidos. As flores, que nasciam aos montes, coloriam com os mais belos tons aquele parque que no inverno não tivera vida. Nos bancos de madeira dispostos na sombra das árvores, viam-se pais, ocupados em conversas sobre política e economia, outros lendo jornais ou revistas, mas sem tirar os olhos daquelas criaturinhas sapecas. O movimento do parque aumentava à medida que o sol subia no céu, ao mesmo tempo em que a intensidade da alegria e dos risos provocados pelas crianças preenchia o ambiente. Tudo naquele parque parecia perfeito. Uma imagem digna de uma verdadeira pintura, daquelas em que se sente a energia e os sentimentos somente de olhar para a imagem. Daquelas pinturas que captam sorrisos, de crianças correndo, com seus cabelos ao vento, conversas aleatórias, sem esquecer dos cachorros com a língua de fora. Daquelas pinturas que se pode ficar observando, sem cansar os olhos e a alma, e que, no inconsciente, faz surgir nos lábios de qualquer pessoa um sorriso gostoso, um turbilhão de sentimentos e memórias que é causado pela imagem que retrata o cotidiano de quem a vê.
   O dia, que já estava pela metade, poderia ter sido um dia normal, como todos os outros, se não fosse por algo que com toda certeza surpreendeu a todos. Aquele céu, sem nuvens, que ora fora limpo e azul, tinha escurecido de repente, sem avisar de sua súbita mudança de humor. As crianças, que antes brincavam sem preocupação, agora olhavam para cima, como que procurando a claridade novamente. O sorriso que antes existia em seus lábios pequenos, agora dava lugar às lágrimas pela diversão que lhes fora interrompida. Os adultos, em suas conversas sobre assuntos da atualidade, ficaram surpresos e chocados por aquele manto negro que cobria o céu acima de suas cabeças. Com toda certeza, viria tempestade. Das fortes, e ela não demoraria a chegar. Era preciso se apressar para que não fossem atingidos por ela em pleno ar livre.
   Então, recomeçou a correria no parque, mas desta vez, não eram as brincadeiras e a felicidade infantil que movimentavam o ambiente, mas a preocupação dos pais que procuravam seus filhos desesperadamente. Queriam vê-los, abraçá-los, para poder pegá-los no colo, beijar suas testas pequenas e então correr com eles para um lugar seguro. Queriam salvar suas pequenas crianças que só queriam um pouco de diversão. Se aquela tempestade pudesse ter esperado até a noite, com toda certeza eles estariam a salvo sob os tetos de suas casas, não tão assustados quanto agora, na presença de algum tipo de fenômeno natural que prometia deixar estragos. Poderia até deixar estragos na cidade, no parque, nas casas, mas não podiam deixar estragos em suas crianças.
   Cada pai ou mãe, largou as revistas ou jornais no chão, e começaram a correr e chamar por seus pequeninos. As crianças, sem qualquer ação pelo susto que levaram, muitas vezes não escutavam seus pais quando estes chamavam seu nome. Então, os pais precisavam correr pelo parque, olhando o rosto de cada criança que pelas costas parecia com seu filho. O parque estava numa confusão geral. Os pais, já desesperados, gritavam por seus filhos. Já os filhos, assustados com a súbita mudança climática, com a correria e a gritaria, choravam e soluçavam por não encontrarem seus pais. O caos estava estabelecido, mas as crianças e seus pais precisavam ir para baixo de um telhado, ou seriam atingidos pela tempestade que já ameaçava destruição por onde passasse.
   Então, um pai achou seu filho, e correu para baixo da lojinha da esquina. Estava a salvo com seu pequenino, ou pelo menos achava que estava. Agora, era só ficar ali, esperando a tempestade passar. Mas a correria que ainda se via no parque o perturbava e o fazia questionar-se: E se fosse eu que não achasse meu filho no meio de tantas crianças? E se meu pequeno ainda estivesse no meio do parque? E se eu não o tivesse encontrado? Isso o pressionava e o deixava aflito. Por fim, decidiu ajudar os pais desesperados e recomendou ao filho que ficasse junto com a recepcionista do bar ao lado.
   Correu para o meio da confusão geral, e assim que viu uma mãe assustada, perguntou-lhe qual era a aparência de seu filho. Ela, por fim, desesperada, lhe respondeu: “Minha filha tem sete anos. Está usando um vestidinho cor-de-rosa, pés descalços, é loira e usa uma tiara nos cabelos encaracolados. Se puder achá-la para mim, por favor, eu lhe agradeço muito.” O jovem pai assentiu, e se apiedou do coração daquela mulher que não achava sua filha. Começou a procurar pela menininha, por todos os cantos, lados, embaixo dos brinquedos, escorregas, árvores, bancos. Nada. Nenhum sinal da menina. Começou a perguntar aos pais se a tinham visto, mas estes estavam ocupados demais tentando achar seus próprios filhos. Já começava a sentir o desespero de não achar a menininha. Queria poder ajudar, mas podia muito bem estar somente atrapalhando. Não queria desistir, de jeito nenhum. Só precisava sentar um pouco para recobrar o fôlego. Caminhou até o próximo banco, e quando ia se sentar, foi que a viu: loira, vestidinho cor-de-rosa, pés descalços, aflita, o rosto vermelho por causa do choro. Então foi até ela, e lhe disse que conhecia sua mãe. A menininha sorriu e disse: “Mamãe. Cadê?”. O homem, com um sorriso nos lábios, o coração já mais leve, somente lhe respondeu: “Vou te levar até sua mãe”. A menina agarrou sua mão, e saiu saltitando com o homem, feliz porque ia ver sua mãe de novo. Ela parecia uma verdadeira boneca, os cabelos encaracolados balançando de um lado pro outro enquanto ela pulava, agarrada à mão do homem que dizia conhecer sua mãe. Como as crianças eram ingênuas. Doces, acreditavam piamente em cada palavra que os adultos lhe proferiam. Se quisesse, poderia levar essa menina para si, dizer à sua mãe que não a havia encontrado, e levá-la para casa para ser como uma irmãzinha para seu filho. Mas não faria isso. Acreditava que a menina seria infeliz sem a mãe, assim como ele seria infeliz sem o filho. Além disso, aquela pobre mãe já tinha sofrido o bastante para um dia só.
   Abriu caminho entre as pessoas, pedindo licença aqui, ali, até chegar ao lugar em que havia encontrado a mulher aflita. Ela ainda estava lá, sentada num banco, chorando, desesperada, achando ter perdido a filinha amada. A menininha, que antes agarrava firme a mão do homem, largou-a assim que viu a mãe, e saiu correndo ao seu encontro. “Mamãe”, ela gritou, enquanto corria em passadas pequenas o pouco espaço que as separava. A mulher ergueu a cabeça, e, vendo a filha, sorriu de uma orelha à outra. Abraçou-a , beijou sua testa, sorriu, chorou de felicidade. E somente então, viu o homem parado, que observava a cena com um sorriso nos lábios. Encaminhou-se a ele, e lhe agradeceu sem parar pelo bem que havia feito para sua filha e a si mesma.
   Ficaram em silêncio, um encarando o outro, mas foram interrompidos pelo barulho ensurdecedor de um trovão. Estava na hora de procurar abrigo. Nesse meio tempo em que se encaravam, como que se agradecendo mutuamente, não perceberam que o parque havia se esvaziado, deixando o ambiente com uma atmosfera carregada. As pessoas haviam se abrigado embaixo dos telhados dos barzinhos, das farmácias e lojas que haviam na avenida. O interior dos estabelecimentos estava abarrotado de gente. Algumas, que estavam mais perto da rua, gritavam para eles, dizendo para correr, se abrigar embaixo de telhado, pois a tempestade não esperaria eles encontrarem abrigo. Então, depois de mais um sorriso, a mulher pegou a filha no colo, olhou o outro, e com um sinal afirmativo de cabeça por parte de ambos, correram quando os primeiros pingos de chuva forte caíam na terra.
   Um pouco molhados, chegaram a tempo no telhado de uma loja que vendia artigos de beleza e roupas fora da moda. A chuva e a tempestade estava apenas começando. Os raios não demorariam a chegar. Parecia que viriam pedras, ou talvez vento. Não se sabia ao certo qual a duração, mas seria uma tempestade de grandes proporções. Então, o homem se lembrou de seu filho. Estava no barzinho da esquina, provavelmente se divertindo com a vendedora. Iria até lá para ver como ele estava e trazê-lo perto de si. Disse à mulher que já voltava, e ela somente fez um sinal afirmativo com a cabeça, ainda abraçada à filha.
   Caminhou entre as pessoas, contornando lixeiras, pedindo passagem, recebendo reclamações e palavrões em resposta. Percorreu uma quadra por baixo dos telhados das lojinhas até chegar ao barzinho da esquina, daqueles enfeitados com dizeres coloridos, de néon, que chamavam a atenção à noite. Abriu a porta e entrou, ao mesmo tempo em que soava um sininho anunciando sua chegada. Assim que lhe viu, a garçonete sorriu e apontou um canto do estabelecimento, onde seu filho rabiscava nervoso em algumas folhas de papel. O menino parou, chateado, e parecia querer sair do lugar em que estava, quando viu o pai, parado na porta, o observando. Sorriu, de um canto da orelha até a outra, e veio correndo na direção de seus braços. “ Papai, você demorou”, disse o menino de 10 anos que parecia ter mais. O homem somente sorriu, e abraçou novamente o filho. “Pai, nós vamos pra casa agora?”. “Não filho, a gente precisa esperar a tempestade passar”. Isso pareceu desanimá-lo, o sorriso que antes ocupava a face deu lugar a uma cara de tristeza. Então, o homem foi até o balcão, e pediu para a garçonete um sorvete de chocolate, de duas camadas, e com muita cobertura em cima. Assim que viu o sorvete, o menino sorriu: “Acho que posso esperar”. A moça sorriu da doçura do menino, e respondeu ao pai quando este lhe perguntou como o menino se portara: “Maravilhosamente bem”. O pai então lhe agradeceu, e pediu quanto lhe devia, ao que ela simplesmente negou com um aceno de cabeça.
   Ao sair do barzinho, o menino lhe perguntou porque havia demorado tanto. “Fui achar uma menina perdida, filho”. “Ah, como um  super-herói?”. “É filho, como um super-herói”, respondeu-lhe o pai, com um sorriso nos lábios, lembrando da felicidade da mulher ao ver sua filha novamente.
   “Quer conhecer a menina, filho?”. “Quero sim, pai, quando?”. “Agora.” “Sério, e onde ela tá?”. “Lá, na esquina da rua.” O menino fez menção de sair correndo, mas não saiu do lugar, pois a mão do pai segurava firmemente a sua pequena mão de criança.
   Calmamente, tentando controlar a ansiedade do filho, eles percorreram, embaixo dos telhados que os protegiam, o caminho que os levaria até a mulher e a menina que ele salvara naquela tarde. A chuva caía forte, em pingos grossos, daqueles que fariam arder se tocassem a pele. A tempestade poderia passar se continuasse a chover por mais alguns minutos.
   Finalmente, ao passar pela farmácia, chegaram à vitrine da loja de roupas e artigos de beleza, e lá estavam elas: a mulher e a menina. Ambas sorriram quando viram o homem, e a menina veio correndo lhe dar um abraço. Isso o emocionou, mais do que queria que emocionasse. A pequenina parou na frente de seu filho, com um olhar indagador no rostinho inocente. “Meu filho”, o homem apresentou. A menina sorriu, e logo indagou ao menino: “Quer brincar?”, no que ele assentiu com um gesto de cabeça. “Só fiquem por perto”, recomendou a mãe da garotinha. As crianças nem escutaram. Já estavam olhando as vitrines e gargalhando. Os adultos então, engataram numa conversa um pouco mais séria:
   - Realmente, te agradeço por ter achado minha filha. Lhe sou eternamente grata.
   - Não há o que agradecer. A propósito, meu nome é Lucas.
   - Susan. Que idade tem seu filho?
   - 10 anos.
   - Não precisa ligar para sua esposa? Ela deve estar preocupada.
   - Ela já não vive mais para preocupar-se.
   - Ai, meu Deus, eu não queria...
   - Não, não tem problema, já faz tempo.
   - Ah, meu Deus, eu não acredito! Olhe! – e apontou para o parque, para onde as crianças corriam de mãos dadas.
   Lucas não esperou duas vezes, saiu numa corrida desabalada em direção às crianças. Então, num súbito impulso, olhou para o céu. Um raio vinha na direção de seu filho e da menina de Susan. Ele tinha que chegar a tempo de tirá-los de lá, ou nunca conseguiria se perdoar. Aos passos longos, mergulhou na direção das crianças, e as abraçou, caindo juntamente com elas no chão, no exato momento em que o raio o atingiu nas costas. A dor era insuportável. Sentiu um forte cheiro de carne queimada, e percebeu, pela dor lancinante, que era a sua carne. As crianças o olhavam assustadas, mas estavam bem, com somente alguns arranhões da queda. Não aguentaria por muito tempo, isso ele sentia. Sua mente ia se esvaindo para a inconsciência. Provavelmente, seu filho não teria mais pai, ficaria órfão e teria que morar com os avós. Pobre menino que o destino quis perturbar. Ele teria uma vida sem pais, mas pelo menos teria uma vida. Lucas se orgulhava de ter sido o salvador de seu filho, que a esta hora poderia estar morto, junto com a filha de Susan. Ouviu passos, sirenes de ambulância, choro, gritos, mas não sentia nada além da dor. Aos poucos, sua alma ia deixando seu corpo, e a escuridão obrigava seus olhos a se fecharem.
***
   Abriu os olhos. Estava num quarto branco, provavelmente um hospital. Enquanto tomava consciência do lugar em que se encontrava, viu quatro olhinhos pequenos a o encararem. “Mãe, ele acordou”, disse a dona de dois dos olhos, pequena criança de cabelos loiros e encaracolados, que ele reconheceu como sendo a filha de Susan.  O outro par de olhos o lembravam de Caren, a esposa que ele perdera há cinco anos, por culpa de um câncer no estômago. Seu filho sorria para ele, totalmente feliz. “Papai, você voltou”, disse o filho. Lucas tentou levantar-se, mas a dor nas costas não permitiam tal luxo. Então lembrou-se do raio, das crianças assustadas, mas vivas, do barulho das pessoas, das sirenes, e da escuridão. Provavelmente a dor nas costas era culpa do raio. Maldito raio! Tinha que ter atravessado seu destino naquele exato momento.
   No meio de seus devaneios, ele viu mais um par de olhos juntar-se aos quatro olhos de crianças. Susan. Loira, assim como a filha, ela sorria para ele. Diante daquela imagem, de três pares de olhos e três sorrisos a o encararem, ele soube que tinha valido a pena pular na frente do raio. Que mesmo que ele tivesse morrido, sua morte teria sido a causa da sobrevivência das crianças. E isso, para ele, valia mais do que viver uma vida inteira sem seu filho. Porque agora, ele tinha mais que um filho, ele tinha uma família: uma menina que podia considerar como filha, e uma bela mulher que viveria para sempre ao seu lado. Pelo menos, o sempre que o destino permitisse.





quarta-feira, 20 de maio de 2015

LINHAS TORTAS

A noite em breve cairia no céu, espalhando seu manto negro por entre pontinhos iluminados, belas incertezas brilhantes e aconchegantes que eram as estrelas. Com toda certeza, neste mesmo tempo em que eu iria estar chorando em minha cama, molhando com minhas lágrimas de desgosto o travesseiro macio que me servia de consolo, muitos casais estariam aproveitando a noite bonita, entretidos em admirar as estrelas e o contraste que as mesmas faziam com a escuridão da noite,  em conversar e se amar. Muitas crianças, neste momento, estariam teimando com seus pais em irem para a cama, implorando por somente mais alguns minutinhos de brincadeira. Pensar em crianças me faz chorar. Não pelo fato de serem crianças, mas, eu simplesmente amava crianças. Elas, eu imaginava na flor de minha idade, me fariam rir um dia, me fariam arrancar os cabelos, mas dariam um novo sentido à minha vida . Ah! Aquele meu sonho de ser mãe. Quando mais nova, eu acreditava piamente que este meu sonho seria real, que seria somente uma questão de tempo e concordância por parte daquele que seria meu companheiro. Agora este pensamento faziam lágrimas fortuitas aparecerem em meus olhos, lágrimas que insistiam em banhar meu rosto, fazendo arder meu coração que havia muito já não era mais inteiro.
   O fato é que o destino havia rido de meu sonho, gargalhado de minha cara, brincando com meus sentimentos a custa de minha felicidade. Quisera este mesmo destino, que por algum motivo, eu não pudesse ser mãe. Que eu carregasse dentro de meu ser, para me lembrar todos os meses, que eu era incapaz de procriar. Que eu carregava comigo, para sempre, a infertilidade que roubara minha felicidade. E que este era o mesmo motivo de meu marido ter fugido com outra. Outra que era capaz de dar herdeiros a ele, que era capaz de lhe dar uma família, coisa esta que eu não podia, mesmo querendo.
   Meu mundo caiu naquela tarde cinzenta de inverno em que, sentada na cadeira estofada do consultório, de frente para o médico, ele me trouxe aquela notícia horrenda, que faria de minha vida um torpor para se viver. Eu não queria e nem podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, uma pessoa que tinha como maior desejo a maternidade. Não era justo, nem um pouco justo. Havia tantas mulheres que recusavam este presente divino, que matavam seus pequenos seres antes mesmo de estes terem oportunidade de respirar o ar puro que a natureza oferece, ou pior ainda, largavam suas criaturas pequeninas em qualquer lugar, para morrerem sozinhas e lentamente, quando não tem como se defender. Eu tinha raiva dessa incredulidade da vida, que fazia crianças saudáveis caírem em mãos de adultos errados. Que fazia pequenas vidas se acabarem por não terem outra oportunidade com pais diferentes.
   E então, o destino havia roubado meu maior sonho. Eu era imprestável. Estéril. Infértil. Não podia ter filhos. Nunca. Nunca teria filhos que seriam meus, que teriam sido gerados por meu ser, que seriam uma pequena extensão minha e daquele que havia me abandonado.
   As lágrimas agora corriam como cachoeiras por minha face, já perto do pranto que eu sabia que ainda viria. Sentada naquela cadeira do consultório onde eu atendia pacientes com problemas psicológicos, buscando soluções para os problemas dos outros, eu, depois do longo expediente que havia feito, buscava, mas não encontrava soluções para meus próprios problemas. Exercer a psicologia, buscando ajudar pessoas com problemas, desde menina eu sabia ser meu maior dom. Agora, a profissão que eu tanto amo mais servia para fazer-me esquecer meus próprios problemas. Só estar ali, no meio do consultório, oferecendo soluções para pessoas que não as conseguem encontrar sozinhas, me fazia sentir mais tranquila, obrigando-me a deixar meus problemas de lado para concentrar-me nos dos outros.
   Concentrada em meu próprio pranto e minha própria dor, eu nem havia percebido que a noite havia caído. A penumbra dela se infiltrava pela janela do consultório, a mesma que mostrava o movimento da rua lá embaixo. Há quanto tempo eu estava ali, recordando e me debulhando em lágrimas? Não sei, o tempo já não me importava mais, eu só queria que ele passasse e me levasse para debaixo da terra.
   O relógio apontava seu ponteiro para o número oito, o que queria dizer que eu estava ali desde as seis e meia, quando acabei com o atendimento diário. Estava na hora de ir para casa, mesmo que ela me fazia lembrar as noites que passei com o marido que agora não era mais meu. Para recordar minha incapacidade de realizar meu maior sonho, para poder me tornar quem eu tinha certeza de que nunca mais conseguiria ser. Mesmo assim, eu não podia ficar ali no consultório, eu ainda preferia minha casa e minha cama, onde eu poderia chorar em paz e a vontade.
   Peguei as chaves de meu carro branco, de modelo ultrapassado, mas que me servia para o ir e vir de cada dia. Juntei minhas tralhas e as enfiei na bolsa vermelha de couro, que eu odiava. Estava na hora de comprar uma bolsa nova, mesmo que custasse uma pequena fortuna. Ainda dei uma passada ligeira no banheiro, para lavar a marca de choro do rosto. Então, fechei com duas voltas de chave a porta do consultório e desci as escadas que se faziam imponentes no fim do corredor. Meu carro estava no estacionamento do prédio, no porão, o que significava que eu precisava descer mais um lance de escadas para chegar lá, pois desde o horário em que a clínica havia fechado os elevadores foram desligados.
   Aquelas escadas me mataram de cansaço. Naquela noite, eu tinha certeza, iria desabar na cama e simplesmente apagar. Ziguezagueei pelo meio dos poucos carros que ainda restavam lá, e por fim avistei meu carro, velhinho e abandonado no meio daquele mar de carros importados. Entrei e sentei no assento velho,  batendo a porta com um pouco de força demais. Pus a chave na ignição e a girei. Nada. Mais uma vez. Nada de novo. Continuei tentando, pois as vezes ele pegava somente na quarta ou quinta tentativa. Na sexta, ainda não havia pego o motor. Nenhum sinal de vida. Parece mesmo que a última ida à oficina nada havia resolvido. Lembrei então que tinha gravado o número do celular do mecânico na minha agenda do smartphone. Localizei-o e coloquei pra chamar. Sem sinal. Parecia que meu dia havia nascido pra ser ruim. Tentei mais uma vez. Chamava, mas ninguém atendia. Decidi esperar mais uns dez minutos para tentar de novo, quem sabe estaria ocupado.
   Quando tentei mais uma vez, finalmente o mecânico atendeu. E quando lhe pedi se poderia resolver o problema para mim, ele me disse ser impossível, pois estava neste mesmo momento esperando a mulher dele entrar na sala de cirurgia para ter um bebê. Ia ser pai, disse com orgulho. Eu respondi-lhe dizendo que compreendia, e desliguei. As lágrimas corriam por meus olhos, irreprimíveis. Precisava encontrar uma solução. Quem sabe um outro mecânico, afinal, havia tantos na cidade. Tentei a lista telefônica, mas não achei nenhum contato que me servisse para este fim. Não poderia pegar um táxi, pois os taxistas estavam fazendo greve na praça principal. E eram nove quadras de distância até meu apartamento. Não estava nem um pouco a fim de caminhar, mas era o jeito e a solução. Ou eu caminhava, ou eu dormia no consultório. Eu poderia muito bem dormir no consultório, mas era sexta-feira e nos sábados eu não atendia. Então, peguei minha bolsa, tranquei o carro e saí pelos fundos do estacionamento.
   Mal havia caminhado três quadras e minhas pernas já reclamavam de dor e cansaço, mas precisava continuar. Poderia parar no barzinho da esquina para um lanche e um café, mas o dinheiro já estava apertado e eu queria tanto comprar uma bolsa nova, além de não saber qual seria o custo da manutenção do meu velho companheiro branco e enferrujado. Com certeza, o carro sairia caro, pelo fato de ser um modelo antigo e com peças já raras no mercado. Fazer o que, dinheiro pra um carro novo é que eu não tinha mesmo.
   Continuei meu percurso, mas parei na esquina da rua em que se viam as melhores vitrines de bolsas que havia na cidade. Se eu fosse dar uma olhadinha, eu teria que pegar outro caminho, o que resultaria em uma quadra a mais para caminhar. Quase desisti, mas pensei que, se eu estava a pé, porque não? Não sabia quando cruzaria por ali novamente.
   Fui passando pelas vitrines, admirando as centenas de opções que me dariam dor de cabeça, por seu preço e variação, principalmente, por ser muita coisa pra pouco dinheiro. Estava encantada com um modelo em especial, uma bolsa de tamanho médio, de couro tratado, marrom e com alças grossas. Com certeza, custaria uma pequena fortuna, a qual eu não podia me dar o luxo de gastar no momento. Mas um dia, com certeza um dia, eu teria uma bolsa igual aquela.
   Estava pronta para continuar meu percurso, onde iria me lamentar por ter feito a escolha boba de andar uma quadra a mais, somente para olhar algo que eu não podia comprar, quando senti cheiro de fumaça. Primeiro achei estar sonhando, mas o cheiro ficava mais intenso a medida que eu o ia percebendo. Na rua em que eu estava não havia nada queimando. Olhei ao redor, nada. Então, vi a fumaça negra se erguendo no céu, quase imperceptível pela escuridão da noite, a uma quadra de onde eu me encontrava, no caminho em que eu seguia anteriormente. Pensei em seguir meu caminho, pois já era tarde, e isso era problema dos bombeiros, mas a curiosidade falou mais alto.
   Caminhei quase correndo, virando quadras e esquinas, quase como se fizesse curvas com carros de corrida, esbarrando nas poucas pessoas que passeavam na rua quase deserta. E então, cheguei no local. Havia um pequeno grupo de curiosos a uns dez metros do local, protegido com fitas para as pessoas não chegarem perto demais. Era uma casa de dois andares, imponente, uma construção antiga, mas com certeza de alto valor. A meu ver, a casa não estava pegando fogo a muito tempo, pois os bombeiros, com suas sirenes ligadas, estavam apenas chegando no local, abrindo espaço entre a pequena multidão que ia se formando. Pegaram suas mangueiras e começaram a tentativa de combate às chamas, que se alastravam com cada vez mais rapidez. As pessoas cochichavam, conversavam, tiravam fotos e já havia inclusive algumas emissoras de televisão vindo dar cobertura no local.
   O clima estava tenso, e os bombeiros não estavam conseguindo dar conta do recado. Cogitei ir embora, para chorar em meu travesseiro, com minha solidão, mas houve algo que me impediu de levar essa ideia adiante. Um choro de criança. De uma criança recém-nascida,  mais precisamente. Primeiro achei que alguma mãe descuidada não estava dando a atenção necessária a sua criança, dirigindo-a ao incêndio. Mas era um choro de desespero. E percebi, depois que vi mais rostos assustados olhando para dentro da casa, que o bebê estava dentro do prédio. Eu não acreditava. Alguém precisava tirar aquela criança de dentro do prédio. Não podiam deixá-la morrer lá dentro, consumida pelas chamas. Tentei falar com um dos bombeiros, mas este me disse que precisavam primeiro combater as chamas, não dando ouvidos as minhas súplicas.
   Eu não podia ficar ali parada sem fazer nada. Eu não deixaria aquela criança morrer. Sem pensar duas vezes, arranquei em disparada na direção da casa e das chamas, ignorando os gritos de pessoas e a dor de minhas pernas.
   Senti o calor imediatamente, no momento em que entrei pela porta da casa. Logo na sala de entrada, chamuscados pelo fogo que os engolia, havia dois corpos. Ainda se podia identificar a silhueta de um homem e de uma mulher. Os pais da criança. Mortos.
   Dentro da residência, no meio da intensidade das chamas, se podia distinguir com ainda mais angústia o choro de desespero do bebê. Vinha do andar de cima. Subi correndo as escadas que ameaçavam cair a qualquer momento. No fim do último degrau, encontrei um corredor. O choro era mais forte no fim deste. Corri com ainda mais pressa até lá, até a porta do quarto que guardava o desespero da criança. A porta estava trancada. Droga. Reuni toda a minha força e dei um chute na porta. O choro da criança aumentou e a porta não cedeu. Foram necessários mais dois chutes, estes com uma força que eu não sabia possuir, para que a porta enfim caísse com um estrondo no chão.
   O quarto da criança estava em chamas pela metade. O armário e a janela já não podiam mais serem distinguidos como o que eram antes. O berço em que se encontrava o bebê estava a uns três metros do armário, de onde seria insuportável um adulto ficar sem sentir a intensidade do calor. Corri para o berço e peguei a criança. Uma menina, de mais ou menos quatro meses. O tempo em que eu sabia da minha infertilidade.
   Cobri ela com a manta que havia no berço, e a apoiei contra meu peito. Saí do quarto em chamas praticamente voando, atravessei o corredor e desci as escadas, que se desmancharam depois que meus pés deixavam um degrau para trás. Ao chegar ao fim da escada, eu vi o teto da casa, o mesmo teto sob o qual eu parei quando vi os pais do bebê que agora segurava em meus braços. Ele estava em chamas. Cairia a qualquer momento. Ninguém cruzaria por sob esse teto, pois com certeza ele desabaria quando um peso maior passasse por baixo dele. Mas eu precisava passar por ali. Não conhecia as outras saídas da casa, e sobretudo, não tinha tempo para procurar. Era passar ou ficar. Correr ou morrer.
   Apertei com força a criança contra meu peito, mesmo que esta soluçasse em meus braços, e corri. Reuni toda a coragem que ainda em restava e enfrentei aquele teto que desabou um milésimo de segundo depois de minha passagem. Mais um pouco e eu estaria fora da casa. Minhas pernas parece que tiraram força de meu cansaço, e correram como nunca haviam corrido.
   Passei como um avião pela porta, para ser recebida por uma multidão que agora me aplaudia. 

   Então também sorri, apesar de ter presenciado a morte de duas pessoas que me pareciam como uma família agora que eu segurava a pequena extensão deles em meus braços. Percebi que naquela noite, mesmo que eu estivesse coberta de fuligem, eu havia ganho um presente. A menina que eu salvara, dali por diante, seria minha filha. A filha que eu não era capaz de gerar, mas que eu consideraria como se fosse. Antes eu questionava a escolha que Deus fizera para mim, mas agora eu sabia que no meu caso, ele somente havia escrito certo por linhas tortas.

Feira do Livro em Santa Rosa - RS

http://globotv.globo.com/rbs-rs/jornal-do-almoco/v/ultimo-dia-de-feira-do-livro-em-santa-rosa-rs/4186361/

    Participei na semana passada, dos dias 13 a 16 de maio, da Feira do Livro na cidade vizinha de Santa Rosa, Rio Grande do Sul. 
   "Livros tem gosto de Liberdade", foi o lema adotado na Feira, que nos coloca o livro como algo importante, único.
   Agradeço neste espaço a todos que, de uma ou outra forma, me ajudaram na Feira, seja comprando meus livros ou mesmo no estande da ASES ( Associação dos Escritores de Santa Rosa), que eu devo agradecer em especial pelo apoio e pelo carinho. Agradecimento especial também ao professor Roque Weschenfelder, escritor de Santa Rosa, pelo convite para participar da Feira. 
   Ali, percebi o quão rica é nossa literatura regional, e a importância da Feira para o estado inteiro. Feira esta que contou inclusive com a participação do escritor Juremir Machado da Silva, colunista e cronista do Correio do Povo.
   Só me resta agradecer a Deus pela oportunidade de expôr meu trabalho e pela oportunidade de fazer tantos novos amigos em um espaço de tempo tão curto.
   Que venham outras Feiras, e que elas sejam tão boas quanto esta foi!











CANTO DE PASSARINHO

O meu canto
Sereno e doce
Embora queria que fosse
Algum encanto.

Reconhecimento
Sorriso inocente
No rosto da gente
Que tem sentimento.

Bons ouvintes
E em conseguinte
A liberdade.

É um recanto
Refúgio e meu canto
De passarinho.

terça-feira, 19 de maio de 2015

MEU MAIOR SONHO

   Meu maior sonho sempre foi realizar sonhos. E acho que isso é um objetivo de vida um tanto quanto grande, mas, para mim, desafios sempre fizeram parte de minhas metas. 
   Talvez seja por isso que fiz do meu sonho de publicar um livro um objetivo, uma meta, um desafio a ser alcançado e cumprido. 
   Para não deixar ninguém com cara de perdido, vou contar um pouco sobre isso.
   Aos meus sete anos, na 1ª série, eu fui apresentada ao mundo mágico das letras, que me deu o passaporte para viajar no mundo dos livros e a oportunidade de pincelar as folhas do meu caderno da Barbie com meus primeiros textinhos. 
   Ler, ler e ler. Era isso que eu fazia no meu quarto, nas tardes abafadas que ele me proporcionava, depois do tema da escola. A pilha de livrinhos do meu lado sempre era revirada pra pegar um livrinho que eu ainda não tinha lido ou que eu tinha vontade de ler de novo. 
  Na 2ª série, tempo em que eu estava com oito anos, veio um presente por parte de meus pais que inesperadamente mudaria minha vida no meio da literatura: um livrinho de poesias. Sobre números, mas era um livrinho, e de poesias. E elas me fascinaram. Tanto, que rimar palavras passou a ser um dos meus passatempos favoritos. Eu amava brincar de rimar, isso enquanto fazia os pequenos afazeres domésticos que minha mãe solicitava, eu rimava, e rimava: varrer/correr; belo/amarelo; brincar/deitar. 
   Depois de ler, rimar era minha maior paixão. 
  Tanto que, aos meus oito anos, todas elas deram resultado, as minhas paixões de infância: surgiu minha primeira poesia: Sete Bacana, consequência das minhas leituras, das minhas imaginações, das coisas que eu gostava, da minha mania de rimar, e também do meu primeiro livrinho de poesias.
   Depois dessa não parei mais. Continuei escrevendo versos e pondo no papel todas as minhas experiências que me marcavam de alguma forma. Era um modo de desabafar, ou simplesmente de pôr em linhas o que me vinha na imaginação. Eram poucas poesias, mas eram, já naquela época, um pedaço da minha alma que eu selava no papel.
   À medida que meu caderno enchia de versos, eu começava a sonhar: sonhar em publicar um livro, em mostrar às pessoas a visão de mundo pelos olhos de uma criança, que naquela época eu não percebia: doce, pura, inocente. 
   O livro começou a ser digitado no ano de 2012, mas ( sempre o mas ), faltava uma coisa: processo burocrático do livro, como a ficha catalográfica e o ISBN. Eu não tinha a menor ideia de como fazer isso e nem conhecia alguém que pudesse fazer isso por mim.
   Então, em meados de maio de 2014, por acaso liguei a televisão na hora de uma entrevista, com a patronesse da Feira do Livro de Santa Rosa, na ocasião a Lara Luft. Falaram sobre a Feira, e também um pouco sobre a carreira dela, que ela já havia publicado contos em antologias e por aí vai. Na hora não me dei conta, mas depois me flagrei que: se ela já tivesse publicado, ela deveria conhecer alguém que pudesse fazer a parte burocrática necessária. Não deu outra! Ao entrar em contato com ela, me foi repassado o contato com o professor Roque Weschenfelder, de Santa Rosa. Juntamente com ele, demos início ao processo burocrático, que demorou alguns meses para se concretizar, por conta de minha espera e pesquisas que fiz.
   E, no dia 12 de dezembro de 2014, no CTG Sentinela da Coxilha, em Cândido Godói, Rio Grande do Sul, realizei meu maior sonho, consegui alcançar minha meta e transpor meu desafio: lançei meu primeiro livro: Poesias de Minha Infância, obra de 104 páginas, contendo 54 poesias, escritas de meus 8 aos 12 anos.
  Nesse dia, tive a sensação de ter tocado nas estrelas, e parece que essa sensação me acompanha sempre que falo que eu consegui, que eu realizei meu sonho, e quando posso dizer, com orgulho, que valeu a pena não desistir.